Boa noite a todos!
Aí vai a segunda carta para o estudo da Loja conde de Saint Germain nesta segunda-feira próxima, para quem quiser acompanhar.
É mais uma longa carta que, provavelmente, não será discutida de uma só vez.
Carta no. 2 (ML -2) Recebida em 19 de outubro de 1880
A primeira carta recebida do Mestre K.H. foi escrita no
mosteiro de Toling, no Tibet, a uma distância relativamente pequena da fronteira.
Quando a segunda foi escrita (ou precipitada), o Mahatma havia deixado o
Mosteiro de Toling e estava em algum ponto do vale de Cashemira, viajando para
consultar o Maha-Chohan a respeito da carta que recebera de A.O.Hume.
Como Sinnet explicou em “O Mundo Oculto”, Hume havia lido a
primeira carta vinda do Mahatma, ficara entusiasmado com as possibilidades dessa
correspondência e decidira escrever pessoalmente a K.H. Em sua carta, ele se
propusera a abandonar tudo e a entrar em retiro, se pudesse ser treinado em
ocultismo com o objetivo de retonar ao mundo e demonstrar a sua realidade.
Após receber a primeira carta do Mahatma, o Sr. Sinnet
escreveu-lhe novamente, dizendo que, na verdade, a mente europeia era menos
obstinada do que K.H. pensava e estabelecendo certas condições sob as quais ele
estaria disposto a trabalhar pela causa dos Mestres. Também fez uma sugestão,
que ele e Hume haviam imaginado, de que se fosse formada uma seção da Sociedade
teosófica, a ser chamada de Loja Anglo-Indiana, que não ficaria subordinada, de
modo algum a H.P.B. e ao coronel Olcott, mas seria conectada diretamente à
Fraternidade, com os Mhatmas dando as suas instruções e seus ensinamentos
diretamente aos membros do grupo. Parece que também Hume, em sua carta ao
Mahatma, havia argumentado em favor desta sugestão.
Recebida em Simla, 19
de outubro de 1880.
Prezado Senhor Irmão,
Não poderemos nos entender,
em nossa correspondência, enquanto não ficar completamente claro que a ciência
oculta tem seus próprios métodos de pesquisa, tão arbitrários e fixos como são,
à sua maneira, os da ciência física, sua antítese. Se esta última possui as
suas máximas, a ciência oculta também as possui; e aquele que quiser cruzar os
limites do mundo invisível não poderá determinar por si mesmo como há de
progredir no seu caminho, do mesmo modo como quem pretende penetrar nos
recessos internos dos subterrâneos de Lhasa, a abençoada, não pode mostrar o
caminho ao seu guia. Os mistérios nunca
puderam e jamais poderão ser colocados ao alcance do público em geral; não pelo
menos, até o dia esperado em que nossa filosofia religiosa se torne universal.
Em todas as épocas somente uma escassa minoria de homens possuiu os segredos da
natureza, embora multidões tenham testemunhado as evidências práticas da
possibilidade de sua posse. O adepto é a rara eflorescência de uma geração de buscadores;
e para converter-se num deles é preciso obedecer ao impulso interno da alma,
sem levar em conta as cautelosas considerações da ciência ou da inteligência
mundanas. O seu desejo é entrar em comunicação direta com um de nós, sem a
intervenção da sra. B. ou de qualquer intermediário. Sua ideia seria, se eu a
compreendo obter tais comunicações por cartas – como a presente – ou por palavras
audíveis, de modo que você seja guiado por um de nós na administração e,
principalmente, na instrução da Sociedade. Você quer tudo isso e, todavia, como
você mesmo diz, ainda não encontrou até agora “razões suficientes” para abandonar
nem mesmo os seus “modos de vida” que são diretamente hostis a tal tipo de
comunicação. Aquele que quiser erguer alto a bandeira do misticismo e proclamar
que o seu reino está próximo, tem que dar o exemplo aos outros. Ele deve ser o
primeiro a mudar os seus próprios modos de vida; e com relação ao fato de que o
estudo dos mistérios ocultos é o degrau mais alto da escada do Conhecimento,
tem que proclamar isso em voz alta, apesar da ciência exata e da oposição da
sociedade. O reino do Céu é obtido pela força, dizem os místicos cristãos. É
somente com uma arma na mão e disposto a vencer ou morrer que o místico moderno
pode ter a expectativa de alcançar seu objetivo.
Minha primeira
resposta cobriu, pensei, a maior parte das questões da sua segunda e mesmo as
da sua terceira carta. Tendo expressado nela a minha opinião, de que o mundo,
em geral não está ainda maduro para nenhuma comprovação demasiado impactante de
poderes ocultos, resta-nos apenas tratar com os indivíduos isolados que buscam,
como você, ir além do véu da matéria até o mundo das causas primárias, ou seja,
só precisamos considerar agora o seu caso e o do Sr. Hume. Esse senhor fez-me
lembrar também a grande honra de dirigir-se a mim pessoalmente, fazendo algumas
perguntas e estabelecendo as condições sob as quais estaria disposto a
trabalhar seriamente para nós. Mas como as suas aspirações e motivações são de
natureza diametralmente opostas e levam, portanto, a resultados diferentes,
tenho que responder separadamente a cada um de vocês.
O primeiro e
principal fator que determina nossa decisão de aceitar ou rejeitar sua oferta
está na motivação interna que o leva a buscar as nossas instruções e, em certo sentido,
a nossa orientação. Esta última é buscada, em todo caso, com certas reservas –
tal como eu entendo e, portanto, fica como uma questão independente de tudo o
mais. Agora vejamos, quais as suas motivações? Tentarei defini-las nos seus
aspectos gerais, deixando os detalhes para considerações posteriores. Elas são:
(1) O desejo de receber provas concretas e incontestáveis de que existem,
realmente, forças na natureza das quais a ciência nada sabe; (2) A esperança de
apropriar-se delas algum dia – quanto antes melhor, porque você não gosta de
esperar – de modo a capacitar-se para: (a) demonstrar sua existência a umas
poucas e escolhidas mentes ocidentais; (b) contemplar a vida futura como uma
realidade objetiva construída sobre a rocha do Conhecimento, não da fé; e (c) finalmente
saber – talvez a mais importante entre todas as suas motivações, embora seja a
mais oculta e melhor guardada – toda a verdade a cerca de nossas Lojas e sobre
nós; para ter, em resumo, uma clara certeza de que os “Irmãos”- sobre os quais
tanto ouvem falar e veem tão pouco – são entidades reais, não ficções de um
cérebro alucinado e desordenado. Essas, vistas em seu melhor aspecto, nos
parecem ser as suas motivações quando se dirige a mim. E eu respondo no mesmo
espírito, esperando que a minha sinceridade não seja mal interpretada nem
atribuída a um ânimo inamistoso.
Para nós, estas
motivações sinceras e dignas de toda consideração do ponto de vista mundano,
parecem – egoístas. (Você tem que me
perdoar pelo que possa ver como linguagem agressiva, se o seu desejo realmente
é o que você diz – aprender a verdade e obter instrução de nós – que pertencemos
a um mundo completamente diferente daquele em que você se movimenta.) Estas
motivações são egoístas porque você deve saber qual o principal objetivo da
S.T. não é tanto satisfazer aspirações individuais e sim servir aos nossos
semelhantes; e o valor real da palavra “egoístas”, que pode soar mal aos seus
ouvidos, tem, para nós, um significado peculiar que pode não existir para você;
portanto, você não deve entender a palavra de outra forma, a não ser no sentido
acima. Talvez compreenda melhor o nosso significado ao saber que, do nosso
ponto de vista, as mais elevadas aspirações pelo bem-estar da humanidade ficam
manchadas pelo egoísmo, se na mente do filantropo, ainda houver uma sombra de
desejo de autobenefício ou uma tendência a fazer injustiça, mesmo quando é
inconsciente disso. No entanto, você sempre argumentou contra a ideia da Fraternidade
Universal, questionou a sua utilidade e propôs uma reestruturação da S.T. tendo
como princípio a ideia de uma escola de ocultismo. Isso, meu respeitado e
prezado amigo e irmão – nunca ocorrerá!
Tendo
abordado os motivos pessoais, vamos examinar as condições que você coloca para
nos ajudar a fazer o bem para o mundo. Em termos gerais, essas condições são: primeiro, que uma Sociedade Teosófica Anglo-Indiana
independente seja fundada através de seus amáveis serviços sobre cuja direção,
não terá.
Influência nenhuma dos
nossos atuais representantes; e, segundo que um de nós tome o novo corpo, “sob
sua proteção” permaneça “em comunicação livre e direta” com seus líderes e lhes
proporcione “a prova direta de que ele realmente possui um conhecimento
superior das forças da natureza e qualidades da alma humana que possam
inspirar-lhes uma adequada confiança na sua liderança.” Eu copiei as suas
próprias palavras a fim de evitar imprecisão ao definir o posicionamento.
Do seu ponto de
vista, essas condições podem parecer tão razoáveis que não provocariam
resistência; e, na verdade, a maior parte dos seus compatriotas – e talvez dos
europeus – poderia ter a mesma opinião. O que poderia ser mais razoável, dirá
você, do que pedir que o instrutor, ansioso para disseminar seu conhecimento e
o discípulo, oferecendo-se para ajudar nisso, se encontrem, face a face e que o
instrutor dão ao outro provas experimentais de que as suas instruções são
corretas? Como homem do mundo, que vive e simpatiza plenamente com ele, você
tem toda a razão, sem dúvida. Mas os homens deste nosso outro mundo, que não
foram treinados na sua maneira de pensar e que podem, às vezes, achar muito
difícil segui-la e apreciá-la, dificilmente podem ser criticados por não
reponderem às suas sugestões com tanto entusiasmo quanto você pensa que deveriam.
A primeira e mais importante das nossas objeções está em nossas Regras. É verdade que temos nossas
escolas e instrutores, nossos neófitos e shaberons (adeptos superiores) e a
porta é sempre aberta quando o homem certo bate nela. E damos sempre boas
vindas ao recém-chegado; apenas, em vez de nós irmos até ele, ele tem que vir
até nós. Mais do que isso: a menos que ele tenha atingido aquele ponto da senda
do ocultismo em que impossível retornar, tendo-se comprometido
irreversivelmente com a nossa associação, nós nunca o visitamos, nem mesmo
cruzamos a sua porta em aparência visível – exceto em casos raríssimos.
Estará algum de vocês
tão ansioso por conhecimento e pelos poderes benéficos que ele confere, que se
disponha a deixar o seu mundo e vir para o nosso? Então que ele venha; mas não
deve pensar em retornar, até que o sigilo dos mistérios tenha fechado seus
lábios contra qualquer possibilidade de fraqueza ou indiscrição. Que ele venha
decididamente como o discípulo vai ao Mestre e sem condições; ou que ele
espere, como tantos outros fazem, e fique satisfeito com as migalhas do
conhecimento que possam cair no seu caminho.
E suponhamos que
vocês venham até nós – como ocorreu com dois de seus compatriotas – como a sra.
B. o fez e o Sr. O. o fará; supondo que vocês abandonassem tudo pela verdade,
lutassem arduamente durante anos para subir a íngreme e perigosa estrada, sem
temer nenhum obstáculo, firmes contra toda a tentação, mantendo, fielmente, nos
seus corações os segredos que lhes fossem confiados em caráter de teste;
trabalhassem com toda a energia e altruisticamente para difundir a verdade e
fazer os homens pensarem e viverem corretamente – vocês considerariam justo
que, depois de todos os seus esforços, nós concedêssemos à sra. B. ou ao Sr.
O., dois “estranhos”, as condições que agora pedem para vocês mesmos? Destes dois,
um já nos deu três quarts partes de sua existência; o outro, seis anos da fase
de pleno vigor sua vida e ambos seguirão trabalhando assim até o fim de suas
vidas. Embora tendo sempre trabalhado para a sua merecida recompensa, nunca a
reclamaram, nem se queixaram quando desapontados. Ainda que eles realizassem
muito menos trabalho do que fazem, não seria uma clara injustiça ignorá-los,
como foi proposto, num campo importante do esforço teosófico? A ingratidão não
está entre os nossos defeitos, nem imaginamos que vocês queiram aconselhá-los a
nós...
Nenhum dos dois tem a
menos disposição para intrometer-se na direção da imaginada loja anglo-indiana,
nem interferir na escolha de seus dirigentes. Mas a nova sociedade, se vier a
ser formada, deve ser de fato (embora tendo uma determinação própria), uma loja
da Sociedade Matriz, como é a Sociedade teosófica inglesa em Londres e
contribuir com sua vitalidade e utilidade para promover a ideia básica de uma
fraternidade universal e de outras formas práticas.
Embora os fenômenos
tenham sido mal apresentados, alguns deles – como você mesmo admite – são incontestáveis.
As “batidas na mesa quando ninguém a toca” e os “sons de sino no ar”, foram,
você diz, “sempre considerados satisfatórios”, etc, etc. Disso você conclui que
bons “fenômenos de teste” podem ser facilmente multiplicados ad infintum. Isto
é verdade – em qualquer lugar onde nossas condições magnéticas e outras estejam
constantemente presentes; e onde não tenhamos que agir com e através de um
corpo feminino enfraquecido no qual, poderíamos dizer, reina um ciclone vital a
maior parte do tempo. Mas, por mais imperfeita que seja nossa agente visível –
e frequentemente ela é imperfeita e insatisfatória ao extremo – ela é o que há
de melhor no momento atual e seus fenômenos tem assombrado e desconcertado
algumas das mentes mais inteligentes da época atual durante quase meio século.
Mesmo ignorando a “etiqueta jornalística” e as exigências da ciência física,
nós temos uma intuição sobre os processos de causa e efeito. Já que você não
escreveu nem mesmo sobre os próprios fenômenos que corretamente considera tão
convincentes, temos o direito de deduzir que muita energia preciosa pode ser
desperdiçada sem bons resultados. Em si
mesmo, o caso do broche é – aos olhos do mundo – completamente inútil e ao
mesmo tempo provará que tenho razão. A sua boa intenção não deu fruto nenhum.
Para concluir:
estamos dispostos a continuar esta correspondência caso a visão do estudo
oculto que é dada acima lhe pareça adequada. Cada um de nós, seja qual for o
seu país ou raça, passou pela provação descrita. Enquanto isto, esperando pelo
melhor, atenciosamente, como sempre,
Koot’ Hoomi Lal
Singh.
Além disto, teremos como tema do estudo do Curso de introdução à Teosofia o tema " O Plano Mental e o Poder da Mente", sob a minha responsabilidade.
Imagens e informações a respeito serão posteriormente colocadas no blog.
Abaixo, a programação de amanhã:
LOJA CONDE DE SAINT GERMAIN – Às 2as. feiras
26 – 14h – A Consciência Superior [Estudo em grupo de capítulo do livro
“As Leis do Caminho Espiritual’’, de Annie Besant
15h – A Hierarquia Angélica na Terra [Lélia Carvalho]
16h – Estudo das “Cartas dos Mestres”- Zarifa Mattar.
Aguardamos vocês!